terça-feira, 22 de outubro de 2019

A MERCANTILIZAÇÃO DA FÉ GANHANDO NOVAS ROUPAGENS




Era uma bela tarde carioca em 04 de outubro de 1974. O Maracanã, conhecido como o templo do futebol mundial, estava repleto de pessoas dos mais variados credos e classes sociais que aguardavam para escutar um pregador vindo de muito longe e que não cobrava um só centavo para proclamar sua mensagem. Seu nome era Billy Graham, o maior evangelista da história. Sentados ou em pé todos ali (incluindo o então presidente da república Ernesto Geisel) estavam prestes a ouvir uma pregação cujo título era “O carnaval da Morte”. Billy Graham, com a ajuda do renomado interprete Walter Kaschel, levou uma mensagem que não visava massagear o ego dos ouvintes ,  mas sim tratar das consequencias do pecado e da necessidade de arrependimento e transformação de vida de todos que estavam à escuta-lo.  Houve centenas de conversões genuínas naquela tarde.  No dia seguinte o maracanã encheu como nunca, abrigando quase 250 mil pessoas. Isso tudo, como falei,  sem envolver a cobrança de um centavo sequer à multidão.

João Pessoa, 2019.  O maior teatro da cidade recebe um outro pregador. Só que, diferente de Billy Graham, para ouvi-lo precisamos desembolsar o valor de um ingresso  que pode chegar a 100 reais.  Sua mensagem, de cunho antropocêntrico  e de autoajuda, massageia o ego dos ouvintes e apresenta um pseudo-Jesus “ao gosto do freguês” que visa alimentar a satisfação humana.  Não é de impressionar que os ingressos tenham vendido tão rapidamente.

É assustador o que muitos fizeram com o evangelho nestes últimos tempos. Charles Spurgeon, Billy Graham, John Knox, Jonathan Edwards, Paulo, Pedro… todos esses homens que marcaram a história do cristianismo jamais cobraram para pregar e agora aparece essa nova moda de “evangelho do coaching” onde todo um interesse mercantilista está envolvido fazendo pastores enricarem a partir da fé aleia.  E o pior é que tais atrações vendem rápido, pois esse tipo de pregação é um verdadeiro abastecimento emocional para uma geração que não abre mão de se dizer religiosa, mas que anseia por uma mensagem afagante, humanista  e motivacional.

Fico imaginando o que Jesus pensa de tudo isso. Desse evangelho estilo auto-ajuda, onde palestrantes cujo discurso é recheado de palavras de efeito, tentam misturar a bíblia com uma boa dose de psicologia de botequim. Fico imaginando como Jesus vê todo essa mercantilização religiosa que fizeram a partir de pregadores profissionais e youtubers.

Jesus certa vez disse “ o que de graça recebestes, de graça dai” (Mt 10.8).  Daí pergunto “qual o porquê de tais cachês absurdos que tais homens cobram?”

A resposta podemos deixar com o apostolo Paulo : “Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam o coração dos ingênuos”(Rm. 16.18).

Que estejamos de olhos bem abertos.


HELTON DE ASSIS
João Pessoa, 22/10/2019

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