quinta-feira, 4 de abril de 2013

PERSONAGENS EM DESTAQUE: NICOLAU SEVCENKO



Nicolau Sevcenko nasceu em São Vicente,  litoral paulista, em 1952 e cresceu na cidade de São Paulo.  Podemos afirmar que certamente ele é um dos historiadores brasileiros mais influentes da atualidade. Ligado às grandes questões do mundo contemporâneo, mantém uma colaboração ativa com jornais, revistas e publicações independentes do Brasil e do mundo.
Possui graduação em História pela Universidade de São Paulo (1975) , doutorado em História Social pela mesma instituição (1981) e pós-doutorado pela University of London (1990) . Atualmente é professor titular da USP e membro de corpo editorial da Brasil Brazil. Suas pesquisas são com ênfase em História Moderna e Contemporânea. Atua principalmente nos seguintes temas: anos 20, cultura, São Paulo.

      BIOGRAFIA

Filho de imigrantes russos, da região da Ucrânia Sevcenko foi criado em uma colônia eslava existente na cidade de São Paulo.  Sua criação se deu em um ambiente muito marcado, sobretudo, por uma espécie de ambiência comunitária muito fechada, que o impediu de ter um contato maior com a realidade brasileira, algo que só foi acontecendo paulatinamente  através da escola elementar e depois do segundo grau.

Sua família possui um grande histórico de perseguições. Seu avô era um funcionário do Império Russo, que teve participação na Primeira Grande Guerra e na guerra civil. Por isso sua família foi incluída em uma espécie de lista negra e teve de fugir ; com os acordos internacionais do entre - guerras, a Ucrânia ficou com o Stalin e ele tratou de perseguir as pessoas que estavam na tal lista. Assim, eles se puseram a circular por diferentes partes do mundo, pulando de nação em nação.  Conviviam com o terror permanente de serem perseguidos. Segundo o próprio Sevcenko, sua família era “absolutamente paranóica, e no processo de fuga se romperam os laços com os que ficaram para trás e foram engolfados pelo regime de repressão. Foi uma coisa terrível e até hoje é um tabu falar desse passado.*” Sua família convivia com um estado de pânico e alerta permanente, e isso teria sido transmitido para ele com muita força durante a infância.

Ainda em relação a sua infância Nicolau Sevcenko afirma:

            “ Fui criado num completo vazio em relação ao tempo pregresso, numa espécie de presente permanente. Quando penso sobre isso, imagino que talvez essa situação tenha tido alguma influência na opção por me tornar um historiador, uma espécie de obsessão pelo passado.*”

Pelo fato de sua criação ter sido um pouco restrita a um núcleo de imigrantes do leste europeu, Sevcenko sofreu com muitas  limitações de sociabilidade com o restante das crianças e famílias da sua localidade. Ele não falava bem o português e tinha assim muitas dificuldades de comunicação, principalmente na escola.  As dificuldades econômicas também eram enormes. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas 5 anos e sua mãe era tecelã. Dividiu a infância entre o trabalho, o esporte e o estudo. Ele e seu irmão passaram a infância atravessando a área industrial do ABC paulista, puxando carrinho cheio de metal, catado nas sucatas ou comprado de outros rapazes que faziam a mesma coisa, e vendendo-os nos centros de reciclagem. Sobre essa parte sua vida, Sevcenko diz que ”Isso tem uma contrapartida. Porque você vê o mundo diferente; vê o mundo puxando um carrinho de metal sucateado no meio da rua. Você é visto diferente e vê diferente.  Isso ajuda muito a sacar quantas angulações diferentes existem na sociedade e quão dramática é a diferença de cada um desses ângulos.”* De coletor de metais usados para reciclagem, a office boy e escritor, fez um pouco de tudo pelos quatro cantos da cidade.


Dada as circunstâncias Nicolau Sevcenko certamente podia ter sido engolido por esse clima hostil e duro. Todavia a família e a escola foram importantíssimas para ele e fizeram toda a diferença. Mas o ambiente familiar era mais de pressão do que de estimulo:

O objetivo era o de, por meio do ensino, obter a compensação pela desgraça histórica que se abateu sobre a família.E não apenas estudar, mas formar-se em Engenharia, que seria o ponto final ideal desse esforço. O que eu sempre tive foi uma espécie de atração por disciplinas de natureza mais cientifica, como Ciências Naturais ou as ditas ciências exatas.*”

Sua decisão em favor da história e das ciências humanas foi mais tardia.

“Acho que foi aquele contexto todo do  final da década de 1960, começo de 70, em que o mundo de repente ficou de cabeça para baixo e os personagens centrais da história eram os jovens que àquela  altura estavam focados em filosofia, em artes, em estética, em comportamento, e de alguma forma me deixei contaminar por aquele espírito.” *

Poucos têm uma história de vida como a do historiador Nicolau Sevcenko. Conquistou a graduação em história em 1975, na Universidade de São Paulo, onde hoje é professor titular desde 1999. Hoje, circula entre São Paulo e Londres, e é membro do Centre for Latin American Cultural Studies, da University of London. É também editor-associado de The Journal of Latin-American Cultural Studies, importante publicação da Universidade de Cambridge nos Estados Unidos.



     PRINCIPAIS OBRAS

Nicolau Sevcenko é autor de obras pioneiras que contribuíram para consolidar o estudo da história da cultura brasileira. A sua obra reflete um intelectual  interessado por diversas áreas do conhecimento e um historiador interessado em se comunicar com um grande público, por isso escreve frequentemente na imprensa, nacional e estrangeira.
Entre sua principais publicações editoriais podemos destacar:

·         Robert Mandrou - Magistrados e feiticeiros na França do século XVII (tradução). São Paulo, Perspectiva, 1979.
·          A Revolta da Vacina, mentes insanas em corpos rebeldes. São Paulo, Brasiliense, 1983; Scipione, 1993.
·         Lewis Carrol - Alice no país das maravilhas (tradução). São Paulo, Scipione, 1986.
·          Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na I República. São Paulo, Brasiliense, 4.a ed., 1995.
·          O Renascimento. São Paulo/Campinas, Atual/ Ed.da UNICAMP, 21.a ed., 1995. - Primeira Página, Folha de São Paulo, 1925-1985, São Paulo, Gráfica da Folha de S. Paulo, 1995.
·          Arte Moderna: os desencontros de dois continentes. São Paulo, Fundação Memorial da América Latina, Coleção Memo, Secretaria de Estado da Cultura, 1995.
·         A corrida para o século xxi: no loop da montanha-russa. São paulo: Companhia das Letras, 2001.
·         História da Vida Privada no Brasil: da Belle èpoque à era do rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.


    ALGUNS PRÊMIOS E TITULOS

·         2010 Prêmio FNLIJ Monteiro Lobato - Melhor tradução para criança - Alice no Pais das Maravilhas, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
·         2000 Prêmio Oliveira Martins, União Brasileira de Escritores.
·         1999 Prêmio Clio de História, Academia Paulistana de História.
·         1998 Prêmio Manoel Bonfim, Governo do Distrito Federal.
·         1998 Prêmio Jabuti, Câmara Brasileira do Livro.
·         1995 Ranking dos 200 nomes capitais do Brasil, Carta Editorial.
·         1985 Ranking Abril Cultural de Novos Talentos - Educação, Editora Abril.
·         1983 Prêmio Moinho Santista Juventude - História do Brasil, Fundação Moinho Santista.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

*Morais, J.Geraldo; Rego, José Marcio. Conversas com historiadores brasileiros. São Paulo: Editora 34, 2002.
 www.companhiadasletras.com.br
www.revistadehistoria.com.br/secao/entrevista/nicolau-sevcenko
 http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4783996E4

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