INTRODUÇÃO
Desde
os primeiros anos de existência da indústria cinematográfica, no inicio do
século XX, as narrativas bíblicas tem inspirado a elaboração de muitos filmes.
Alguns comprometidos em manter uma lealdade para com as narrativas bíblicas,
outros enfeitando voluntariamente (muitas vezes com anacronismos extrapolados)
afim de, antes de tudo, manter uma aparência mais atrativa ao telespectador em
geral. Contemplaremos a multiformidade
presente dentro do gênero épico bíblico, percebendo a existência de vários
gêneros dentro do mesmo; estabelecemos também que o campo do filme religioso se
forma, se define e se redefine constantemente a partir das relações entre o
campo do fílmico (produtoras, cineastas, indústria etc.) e o campo do religioso
(igrejas, instituições religiosas, seus representantes e fiéis).
Muitos
pesquisadores da área cinematográfica, em sua maioria norte-americanos,
reconhecem a existência do gênero Épico Bíblico; entre estes podemos destacar Jon
Solomon, Brian Godawa, William Telford, Melanie Right, B. Babington, P.Evans,
Pamela Grace, Barnes Tatum e Luiz Vadico.
Todavia, a forma como estes estudiosos abordam a temática varia em
perspectivas bem diferentes.
A
GÊNESE DO GÊNERO
A
Europa do inicio do século XX, é o onde tudo começa. Podemos afirmar que os
principais pioneiros do gênero épico bíblico foram os franceses Ferdinand Louis
Zecca(1864- 1947) e Charles Pathé (1983-1957).
Ferdinand Zecca trabalhava como animador de café concerto, no Teatro
Ambigu antes de ser contratado por Charles Pathé durante a Exposição Universal
de 1900, para trabalhar na tão recente
industria cinematográfica. Zecca rapidamente se tornou no homem de confiança de
Pathé ao demonstrar uma grande capacidade comercial.
Os
temas e assuntos prediletos dessa produção são: Jesus Cristo, Os apóstolos,
Moisés, Sansão e Dalila, Davi, Salomão e personagens referentes ao livro de
Gênesis (principalmente Adão e Eva, Noé, Abraão e José do Egito). Ao perceber
estes assuntos como os mais repetidos em produções deste tipo, chama a atenção
um fato marcante: Quase todos estes temas estão entre os filmes produzidos na
primeira década do século XX. Antes
mesmo de o cinema ter se firmado em sua vertente narrativa, as linhas de força
da produção religiosa já estavam sendo postas, como podemos observar abaixo e,
um levantamento de Miller & Hulber.
Entre os anos de 1900 e
1910, tem-se os seguintes filmes: The Passion Play (Luigi Topi, 1900); Soldier
of the Cross (Joseph Perry e Herbert Booth, Australia, 1900); Sanson and
Delilah (Pathé, 1903); The Wandering Jew (Star, de Méliès, 1904); The
Life and Passion of Jesus Christ (Pathé, 1905); The Life of Christ (Alice
Guy, Gaumont, 1906); Moses (Pathé, 1907); Jerusalem in the Times of
Christ (Kalem, 1908); Salome (Vitagraph, 1908); David and Goliath
(Kalem, 1908); The Star of Bethlehem (Edison, 1908); The Kiss of
Judas (Film d’Art, Fra, 1909); Saul and David (Vitagraph, 1909); The
Judgment of Solomon (Vitagraph, 1909); The Life of Moses (Vitagraph,
1909-1910). [Miller & Hulber,2003]
A
França se lançaria como o principal berço deste gênero cinematográfico, quando
em 1902 nasce o primeiro filme bíblico de grande sucesso (tanto em bilheteria,
quanto financeiro): “A vida e a paixão de
Jesus Cristo”. Com aproximadamente 30 minutos de duração e com tudo o que a
produtora francesa Pathé tinha de melhor em termos de elenco, cenário e
equipamentos, os parceiros conseguiram um grande sucesso de bilheteria. Para o
montagem do filme, foi feito uso de um sofisticado sistema de colorização na
película prezando assim pela qualidade das imagens. No elenco podemos destacar
a atuação de Madame Moreau e Monsieur Moreau. O filme teve uma edição expandida
em 1905 com aproximadamente 45 minutos. Algo inovador para uma época onde os
filmes dificilmente duravam mais do que 15 minutos.
Em
1907, ainda na França, ousadamente é produzido “Moses and the Exodus from Egypt (Moisés e o Êxodo do Egito)” , com
duração de menos de dez minutos. Em 1912, Hollywood inova ao filmar “From the Manger to the Cross” (Da
manjedoura a Cruz) em locações reais no Egito e na Palestina. Este,
dirigido por Sidney Olcott, é pontuado por passagens bíblicas, registrado nas
cartelas originais do filme, sempre mostrando as referencias. O filme tem
duração de mais de uma hora e contou com um investimento altíssimo na época.
Dez anos depois, o cineasta húngaro Alexander Corda, desenvolve um projeto
independente, filmando assim Samson
und Dalila, obra que constituía-se em um marco do cinema húngaro. O
filme foi elaborado com a participação de renomados artistas de óperas, como
Julia Sorel e Paul Lukas. Apesar de toda elegância artística da obra, esta
recebeu muitas críticas por supostamente não ser muito coerente com a narrativa
bíblica.
Em
1923, Cecil B. DeMille, o principal responsável pela popularização do gênero
épico bíblico, concretiza um sonho muito ousado ao escrever, produzir e dirigir
a primeira versão cinematográfica de Os
Dez Mandamentos. A primeira metade desse filme mudo conta a história de
Moisés e termina com os acontecimentos referentes ao recebimento dos dez
mandamentos. O restante do filme é uma história a respeito de dois irmãos que
vivem no século XX. Um irmão honra os dez mandamentos, enquanto o outro os
ignora e sofre com consequencias desastrosas.
Os cenários para filmagem das
cenas que se passam no Egito foram
beseados em descobertas arqueológicas recentes, incluindo a da tumba do faraó
Tuntankamon. DeMile contou com um grande
elenco e fez um uso brilhante de efeitos
especiais. Com o intuito de despertar mais o publico para assistir o filme, ele
incluiu cenas de orgias mostrando corpos
seminus, algo que acabou relativamente aceitável naquela época por causa do
contexto em que estas foram inseridas. O filme trouxe legados em muitos aspectos
e acabou influenciando fortemente muitos outros épicos bíblicos que ainda
viriam.
Encorajado pelo sucesso de Os Dez Mandamentos, DeMille lançou em
1927 “O Rei dos Reis”, um filme sobre a vida de Jesus. Sem efeitos especiais
eletrônicos na época, o filme brilhantemente representa os milagres de Jesus
usando truques manuais de luzes e sombras. Tal obra viria a ser tão
duradoura que, diferente de muitos outros filmes, manteve-se um sucesso
razoável por décadas, levando DeMille a
não optar por sua refilmagem. Este filme ganhou uma versão sonorizada nos anos
30.
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