sábado, 22 de setembro de 2012

A CULTURA LOCAL E SUA RELAÇÃO COM A IGREJA E SUA LITURGIA

Igreja Maori, na Oceania. Arquitetura típica da região

Muitos são os debates acerca de como os cristãos devem se relacionar com a cultura local. Alguns afirmam que todos os elementos culturais podem ser adaptados e adotados pela igreja, outros afirmam que devemos ser bastantes seletivos para com a cultura. Outros cristãos (não poucos) simplesmente não sabem como se relacionar com a cultura local.

As perguntas são muitas. Que devemos fazer quanto aos usos, costumes e elementos culturais de nossa época? Adota-los integralmente? Adapta-los? Filtra-los? Utiliza-los no culto congregacional? Esse é um assunto bastante relevante para igreja de Cristo ao redor de todo o planeta.

 Definição de Cultura

Definir cultura não parece ser uma tarefa tão fácil. Ricardo Gondim, em seu livro “É Proibido” (Mundo Cristão 1998), indica que os antropólogos já criaram mais de trezentas definições.

Entretanto a definição  mais corrente é a formulada por Edward B. Tylor, segundo a qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

A cultura está intimamente ligada à linguagem e se expressa em provérbios, mitos, contos populares e diversas formas de arte, que constituem parte do conteudo mental de todos os membros do grupo. A cultura influencia fortemente as ações que se desenvolvem em comunidade: ações de culto e de bem-estar geral; leis e a administração da justiça; atividades sociais como danças e jogos; unidades de ação menores como clubes, sociedades e associações para uma imensa variedade de fins comuns.


Como o cristão deve se relacionar com a cultura?

O artigo 10 do Pacto de Lausanne, nos dá uma concisa resposta acerca de como os cristãos devem se relacionar com a cultura:

A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões, muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.
A redação e leitura da Bíblia, a apresentação do evangelho, a conversão, a igreja e a conduta – tudo isso é influenciado pela cultura.

Os elementos culturais no culto solene

Deus é o Pai da cultura, devido ao fato de esta ser parte inseparável da criatura humana. Tudo o que Deus criou é bom (Gên. 1.31) .Deus criou o ser humano macho e fêmea, à sua própria imagem dotando-o de faculdades distintas e peculiares: racionalidade, sociabilidade, moralidade, criatividade e espiritualidade. Ele também lhe ordenou que tivesse filhos, ocupasse a Terra e a dominasse (Gn 1:26-28). Esses mandamentos divinos são a origem da cultura humana.

Quando uma sociedade é transformada pelo evangelho, consequentemente a sua cultura também é transformada. Como bem disse o pacto de Lausanne, a cultura deve sempre ser julgada e provada pelas escrituras, deixando somente a parte bela e boa. Quando isso é feito a cultura torna-se semelhante ao seu estado de originalidade, assim como Deus criou: santa e agradável a Ele.

Infelizmente muitas comunidades cristãs não lidam com a cultura como deveriam e esse erro se manifesta inclusive nos cultos solenes dessas comunidades. Podemos notar exemplos péssimos, como alguns que citarei.

No ano de 2010 visitei uma determinada Igreja neopentecostal, no Bairro do Bessa, em João Pessoa; nessa ocasião presenciei um grande erro na forma de louvar a Deus: os instrumentos musicais eram tocados de forma bastante barulhenta, com os amplificadores de som ligados a uma potência insuportável. Ao questionar um membro de lá sobre o porquê daquela forma de louvor ele argumentou que aquela era uma igreja composta quase que inclusivamente de jovens e por isso que o estilo musical da igreja era “bem animado e agitado”. Daí comentei sobre a possibilidade de entrar alguém na igreja que se sinta incomodado por tão grande “intensidade de decibéis”. Ele simplesmente insistiu que essa era a forma de louvor daquela igreja e que esse estilo era uma ferramenta de Deus para atrair os jovens da igreja.

Certa vez sucedeu que uma Igreja Batista decidiu fazer um “culto junino”, onde o templo parecia um grande arraial. Colocaram bandeirinhas, penduraram balões e outros enfeites do gênero, o pastor vestiu-se a rigor assim como os diáconos e o ministério de louvor. Indaguei alguns membros desta igreja sobre o exagero presente nesta cerimônia religiosa, inclusive com uso de elementos tradicionalmente católicos romanos. Alguns simplesmente não souberam explicar,preferindo o silêncio; outros infelizmente me taxaram de radical.

Abaixo enumero 6 principios que dizem respeito ao culto solene e sua relação com a cultura local:

1.      O propósito do Culto solene deve ser primeiramente adorar a Deus.
2.      A reverência é essencial.
3.      Não podemos inibir os cristãos de fazerem uso de elementos típicos de sua cultura local.
4.      Os elementos culturais utilizados no culto devem ser isentos de qualquer forma de desrespeito a Deus e/ou ao próprio homem.
5.      A maneira de adorar a Deus na igreja deve ser contextualizada.
6.      A igreja nunca deve se prender tanto à sua cultura, de maneira que os visitantes de outra cultura não se sintam bem-vindos.


CONCLUSÃO

Para encerrar podemos utilizar a mesma conclusão do  Relatório da reunião de consulta sobre o evangelho e a cultura Lausanne:

“Reconhecemos que todas as igrejas devem contextualizarem o evangelho a fim de partilharem-no eficazmente em sua própria cultura. Para essa tarefa de evangelizsação, todos nós conhecemos a nossa urgente necessidade do ministério do Espírito Santo. Ele é o Espírito da verdade, que pode ensinar a toda a igreja como relacionar-se coma cultura que a envolve. Ele é também o Espírito do amor, e o amor é a “linguagem que toda a cultura humana compreende”. Que o Senhor nos encha, pois, com seu Espírito! Então, falando a verdade em amor, cresceremos em Cristo, que é o cabeça, para a glória eterna de Deus (Ef 4:15).”
Deus deseja que todas culturas se almodem a Sua vontade. Para isso a igreja deve reconhecer seu papel nessa maravilhosa regeração.


Referências Bibliográficas

- Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial. O Evangelho e a Cultura. São Paulo: ABU Editora; Belo Horizonte: Visão Mundial, 1983.
- Til, Cornelius Van.  Essays On Christian Education. Artigo extraído de www.monergismo.com
- Stott, John. Pacto de Lausanne. São Paulo:ABU; Belo Horizonte: Visão Mundial, 2003.
- Ryrie, Charles C. Bíblia Anotada Expandida. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.
- Portelo, Solano. Cultura: A Fé Cristã é Contra ou A Favor? Artigo extraído de  www.monergismo.com

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