Igreja Maori, na Oceania. Arquitetura típica da região |
Muitos são os debates acerca de
como os cristãos devem se relacionar com a cultura local. Alguns afirmam que
todos os elementos culturais podem ser adaptados e adotados pela igreja, outros
afirmam que devemos ser bastantes seletivos para com a cultura. Outros cristãos
(não poucos) simplesmente não sabem como se relacionar com a cultura local.
As perguntas são muitas. Que
devemos fazer quanto aos usos, costumes e elementos culturais de nossa época?
Adota-los integralmente? Adapta-los? Filtra-los? Utiliza-los no culto
congregacional? Esse é um assunto bastante relevante para igreja de Cristo ao
redor de todo o planeta.
Definição
de Cultura
Definir cultura não parece ser
uma tarefa tão fácil. Ricardo Gondim, em seu livro “É Proibido” (Mundo Cristão
1998), indica que os antropólogos
já criaram mais de trezentas definições.
Entretanto
a definição mais
corrente é a formulada por Edward B. Tylor,
segundo a qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as
crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e
aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
A cultura está intimamente ligada à linguagem e se
expressa em provérbios, mitos, contos populares e diversas formas de arte, que
constituem parte do conteudo mental
de todos os membros do grupo. A cultura influencia fortemente as ações que se
desenvolvem em comunidade: ações de culto e de bem-estar geral; leis e a
administração da justiça; atividades sociais como danças e jogos; unidades de
ação menores como clubes, sociedades e associações para uma imensa variedade de
fins comuns.
Como
o cristão deve se relacionar com a cultura?
O
artigo 10 do Pacto de Lausanne, nos dá uma concisa resposta acerca de como os
cristãos devem se relacionar com a cultura:
A
cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é
criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque
ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte
dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura
sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade
e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as
culturas. As missões, muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho,
uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames
de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm
de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade
pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar
transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.
A redação e leitura da Bíblia, a apresentação do evangelho, a
conversão, a igreja e a conduta – tudo isso é influenciado pela cultura.
Os
elementos culturais no culto solene
Deus é o Pai da cultura, devido
ao fato de esta ser parte inseparável da criatura humana. Tudo o que Deus criou
é bom (Gên. 1.31) .Deus criou o ser humano macho
e fêmea, à sua própria imagem dotando-o de faculdades distintas e peculiares:
racionalidade, sociabilidade, moralidade, criatividade e espiritualidade. Ele
também lhe ordenou que tivesse filhos, ocupasse a Terra e a dominasse (Gn
1:26-28). Esses mandamentos divinos são a origem da cultura humana.
Quando uma
sociedade é transformada pelo evangelho, consequentemente a sua cultura também
é transformada. Como
bem disse o pacto de Lausanne, a cultura deve sempre ser julgada e provada
pelas escrituras, deixando somente a parte bela e boa. Quando isso é feito a
cultura torna-se semelhante ao seu estado de originalidade, assim como Deus
criou: santa e agradável a Ele.
Infelizmente muitas comunidades
cristãs não lidam com a cultura como deveriam e esse erro se manifesta
inclusive nos cultos solenes dessas comunidades. Podemos notar exemplos
péssimos, como alguns que citarei.
No ano de 2010 visitei uma
determinada Igreja neopentecostal, no Bairro do Bessa, em João Pessoa; nessa
ocasião presenciei um grande erro na forma de louvar a Deus: os instrumentos
musicais eram tocados de forma bastante barulhenta, com os amplificadores de
som ligados a uma potência insuportável. Ao questionar um membro de lá sobre o
porquê daquela forma de louvor ele argumentou que aquela era uma igreja
composta quase que inclusivamente de jovens e por isso que o estilo musical da
igreja era “bem animado e agitado”. Daí comentei sobre a possibilidade de
entrar alguém na igreja que se sinta incomodado por tão grande “intensidade de
decibéis”. Ele simplesmente insistiu que essa era a forma de louvor daquela
igreja e que esse estilo era uma ferramenta de Deus para atrair os jovens da
igreja.
Certa vez sucedeu que uma Igreja
Batista decidiu fazer um “culto junino”, onde o templo parecia um grande
arraial. Colocaram bandeirinhas, penduraram balões e outros enfeites do gênero,
o pastor vestiu-se a rigor assim como os diáconos e o ministério de louvor. Indaguei
alguns membros desta igreja sobre o exagero presente nesta cerimônia religiosa,
inclusive com uso de elementos tradicionalmente católicos romanos. Alguns
simplesmente não souberam explicar,preferindo o silêncio; outros infelizmente
me taxaram de radical.
Abaixo enumero 6 principios que
dizem respeito ao culto solene e sua relação com a cultura local:
1.
O propósito do
Culto solene deve ser primeiramente adorar a Deus.
2.
A reverência é
essencial.
3.
Não podemos inibir
os cristãos de fazerem uso de elementos típicos de sua cultura local.
4.
Os elementos
culturais utilizados no culto devem ser isentos de qualquer forma de desrespeito
a Deus e/ou ao próprio homem.
5.
A maneira de
adorar a Deus na igreja deve ser contextualizada.
6.
A igreja nunca deve se prender tanto à sua cultura, de maneira que os
visitantes de outra cultura não se sintam bem-vindos.
CONCLUSÃO
Para encerrar podemos utilizar a mesma conclusão do Relatório da reunião de consulta sobre o
evangelho e a cultura Lausanne:
“Reconhecemos que todas as igrejas devem contextualizarem o evangelho a
fim de partilharem-no eficazmente em sua própria cultura. Para essa tarefa de
evangelizsação, todos nós conhecemos a nossa urgente necessidade do ministério
do Espírito Santo. Ele é o Espírito da verdade, que pode ensinar a toda a
igreja como relacionar-se coma cultura que a envolve. Ele é também o Espírito
do amor, e o amor é a “linguagem que toda a cultura humana compreende”. Que o
Senhor nos encha, pois, com seu Espírito! Então, falando a verdade em amor,
cresceremos em Cristo, que é o cabeça, para a glória eterna de Deus (Ef 4:15).”
Deus deseja que todas
culturas se almodem a Sua vontade. Para isso a igreja deve reconhecer seu papel
nessa maravilhosa regeração.
Referências
Bibliográficas
- Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial. O Evangelho e a Cultura.
São Paulo: ABU Editora; Belo Horizonte: Visão Mundial, 1983.
- Til, Cornelius Van. Essays On Christian
Education. Artigo extraído de www.monergismo.com
- Stott, John. Pacto de
Lausanne. São Paulo:ABU; Belo Horizonte: Visão Mundial,
2003.
- Ryrie, Charles C. Bíblia Anotada Expandida.
São Paulo: Mundo Cristão, 2007.
- Portelo, Solano. Cultura:
A Fé Cristã é Contra ou A Favor? Artigo extraído de www.monergismo.com
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